O Envolvimento da Família na Educação dos Surdocegos

                                 
 
   Trabalhos com os pais são fundamentais para o tratamento adequado da criança surdocega, trabalhos onde o respeito pela pessoa dos pais seja a base, colocando-se no lugar deles, respeitando-lhes o direito de escolherem o que é melhor para o filho e para a família. (ARÁOZ, 1999; ARÁOZ, et. al 2007; MAIA, et. al 2007).
      Allen (1997) expõe que historicamente, os pais de crianças surdocegas se enfrentam com atendimentos educacionais impróprios e distantes, necessitando enfrentar todas as dificuldades que estas condições impõem às famílias já muito sensibilizadas e desgastadas pelo forte impacto da surdocegueira nas suas vidas. A atenção que é dispensada às famílias é fundamental para o bom desenvolvimento da criança surdocega porque o desenvolvimento dela depende dos relacionamentos que ela possa estabelecer com as pessoas, os pais e irmãos.
     Ainda recomenda que os profissionais exerçam em alto grau as características de um bom conselheiro, com compreensão das necessidades específicas de cada família e muito envolvimento para desenvolver um diálogo frutífero. Le Poidevin (citado por ALLEN, 1997) destaca a necessidade de muita compreensão para com as famílias que são afetadas por inaptidão em todas as áreas das vidas delas, a nível particular e profissional por níveis profundamente significantes de pesar psicológico e espiritual.
      Lorentzen (1997) destaca a importância da rede de apoio, do quanto são importantes as
pessoas que estão junto aos pais naquele momento, os avós, a família de um modo geral e os profissionais que devem ficar muito mais atentos quando a família é carente destes relacionamentos para auxiliaram a estabilidade e o processo de adaptação à nova e difícil realidade.
     Jesus et al. (1999) divulgam trabalho grupal realizado transdisciplinarmente abordando, de modo geral e abrangente, os diferentes aspectos do relacionamento da família nuclear e da família extensa, dificuldades sociais e econômicas, dificuldades culturais e de conhecimentos específicos. Este trabalho, onde os pais são parceiros iguais, possibilita o desenvolvimento das relações, facilitando-lhes a convivência com as dificuldades e levando-os a enfrentar melhor suas tarefas no dia a dia e a responsabilidade de assumir a defesa dos direitos de seus filhos menores ou dependentes.
     Trabalhos em grupo, onde os temas são escolhidos pelos pais, tem mostrado resultados muito satisfatórios, permitindo a elaboração dos conflitos de aceitação, enfrentamento de preconceitos e luta pelos direitos, enquanto desenvolvem tarefas de seu interesse. (SOARES, 1999)
     Ferioli (1995) no texto do tema “As Famílias e suas Preocupações” do workshop realizado na XI Conferência Internacional para a Educação dos Surdocegos, relata que foram coincidentes os problemas referidos tanto por profissionais como por pais, e os traumas sofridos pelos pais ao ouvir recomendações como: “cuide-o em casa”, “precisa tirar os olhos” e o depoimento de um pai que fala “na hora do diagnóstico os médicos tomam os fatos com uma leviandade que não deveriam. Necessitamos psicólogos que nos apóiem nesse momento de choque para que façam compreender aos outros profissionais que necessitam escutar os pais porque podemos ajudá-los como eles a nós”. Também divulga as preocupações das famílias com os atendimentos isolados, devem ir a uma sessão de fisioterapia aqui a outra de fonoaudiologia ali; e a vida passa de caminho em caminho.
      A citada autora continua colocando que todos coincidem nas dificuldades familiares ocasionadas por trocas de endereço e na sobrecarga econômica que isto acarreta. Dificuldades de adaptação dos irmãos também são freqüentes pois, têm seu espaço familiar severamente invadido pelos tratamentos constantes do irmão, devem mudar de escola e separar-se de seus amigos, para citar alguns efeitos desta procura pelo atendimento mais adequado e o diagnóstico mais correto.
     Augustine (1999, p. 38) no seu relato de experiência sobre como conseguir os atendimentos que são necessários para os surdocegos, fez um comentário à margem que conquistou os presentes, pais e profissionais, que viram a dura realidade espelhada nela: "Podemos definir nossos filhos como as crianças ping-pong, vão para cá, vão pra lá, e não encontram um lugar" traduzindo a fala em espanhol do palestrante.
O envolvimento da família, nos programas especializados, é da máxima importância e este deveria se estender aos irmãos. Segundo Villela (1999) em um estudo com irmãos de crianças cegas descreve que na maioria das vezes não são atendidos nas suas necessidades, carregando o “fardo”, da sua “normalidade”, precisando sempre ser forte. Kenley & Medina (2002) divulgam os cuidados que devem ser tomados com os irmãos e irmãs de crianças surdocegas, dando importância aos seus sentimentos que podem ser positivos às vezes e outras vezes negativos. Eles precisam lidar com a compreensão de uma dificuldade muito limitante e por vezes sentem culpa e medo. Recomendam de modo especial a participação deles nos
programas para famílias.

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